domingo, 13 de julho de 2014

Após um ano, jovem de São Luís de Montes Belos que sobreviveu 4 dias no mato celebra 'nova chance'

Em recuperação, ele voltou, nesta semana, a pisar com o pé esquerdo.Ademar caiu em buraco após acidente com moto em julho do ano passado.


Ademar Inácio Moreira Neto, São Luis de Montes Belos, Goiás (Foto: Érika Fernandes/ Arquivo Pessoal)
Ademar já consegue andar de carroça
(Foto: Érika Fernandes/ Arquivo Pessoal)
Há um ano o tratador de cavalos Ademar Inácio Moreira Neto, de 21 anos, era resgatado de um buraco às margens da GO-060, onde caiu após um acidente de motocicleta e ficou por quatro dias. O jovem ainda se recupera da lesão na perna esquerda, mas, nesta semana, recebeu autorização médica para voltar a pisar no chão. Para ele, este domingo (13) é muito especial. “Depois de todo o sofrimento que passei, tenho que agradecer muito a Deus. Muita gente me ajudou, mas foi ele quem não me deixou morrer e me deu uma nova chance”, disse ao G1.

Para Ademar e seus familiares, o período é de reflexão e comemoração. Mãe do vaqueiro, a funcionária pública Mônica Mendes Moura, de 39 anos, considera o dia do resgate do filho como um segundo aniversário. “Eu falo que domingo é aniversario dele de novo, que ele tem dois aniversários no ano, pois ele renasceu”, ressalta a mãe do jovem.

Mônica afirma que é “emocionante acompanhar a recuperação” de Ademar. “É gratificante vê-lo gordinho, saudável, porque um ano atrás ele estava sem comer e beber. Eu estava desesperada”, afirma a funcionária pública. Ademar teve que beber a própria urina para sobreviver no mato.

Apesar da evolução do estado de saúde de Ademar, ele ainda possui várias restrições. Usando uma muleta para se locomover, ele mantém os pinos na perna, o que o impossibilita de exercer várias atividades, como dirigir e domar animais. “Eu não gosto de depender das pessoas, não gosto de pedir as coisas, não dependia de ninguém, mas agora eu não posso andar de moto, a cavalo, fico mais quieto. Dependo da minha mãe para fazer curativo”, pondera o vaqueiro.

No início deste ano, a expectativa de Ademar era de que em maio ele voltaria a caminhar normalmente, quando estava prevista a retirada dos pinos da perna. Entretanto, o procedimento teve que ser adiado. ,

“Estou com a gaiola ainda porque eu tive problema, o osso não queria calcificar, deu infecção no enxerto. O médico prefere não falar data, mas daqui até o final do ano eu devo tirar os pinos. O médico disse que agora está correndo tudo super bem, o osso já está bem colado”, explica o jovem.

Ademar frequenta sessões de fisioterapia e está focado na sua recuperação. “Não é fácil. No começo, como não estava acostumado a ficar de repouso, ficava com expectativa de tirar logo a gaiola. Agora eu entendi que não é assim, estou menos ansioso. Depois de tudo que passei, sei que não posso descuidar e que é um processo longo”, disse.


Acidente
O acidente ocorreu em 9 de julho de 2013, quando Ademar foi a Fazenda Nova, no noroeste de Goiás, para vender um cavalo. O negócio não deu certo. Quando ele voltava para São Luís de Montes Belos, uma caminhonete colidiu com a motocicleta onde estava e o jogou para fora da rodovia. Com a perna fraturada, o rapaz se arrastou até a moto, mas não conseguiu ficar de pé nem subir o barranco.

Ademar está internado em hospital de Goiânia (Foto: Hugo/ Divulgação)
Ademar ficou cerca de 50 dias hospitalizado
(Foto: Hugo/ Divulgação)
Sem notícias do jovem, a família começou a procurá-lo. O desaparecimento de Ademar mobilizou moradores da região. Além da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros, cerca de 70 pessoas auxiliaram nas buscas.


Desespero
Ademar não tinha comida nem água. Então, ele se viu obrigado a beber a própria urina para sobreviver. "Segurava para fazer xixi só uma vez por dia. Fazia xixi dentro da garrafinha e bebia. Passei muito sofrimento", conta.


O tratador de cavalos relata que passou os primeiros dias rastejando: "Eu arrastava para perto da cerca, perto do asfalto, depois arrastava para a sombra de novo". Também gritou diversas vezes por socorro, mas ninguém o escutava. "Foi indo e eu desisti", desabafa.

Debilitado e sentindo muitas dores, Ademar não tinha mais forças para pedir por socorro. "Falei para Deus que se ele tivesse alguma coisa para mim aqui na Terra, um propósito, que iam me achar, porque eu não dava conta mais de gritar, não dava conta mais de chamar".

Mesmo com todo sofrimento, o jovem acreditava que ia ser resgatado. "Sempre tive fé em Deus que alguém ia me achar. Tinha na minha cabeça que Deus não ia deixar eu morrer", ressalta o jovem.
Ademar recebeu os primeiros socorros no meio do mato, em Goiás (Foto: Claudemir Ratinho/ Arquivo Pessoal)
Ademar recebeu os primeiros socorros no meio do
mato (Foto: Claudemir Ratinho/ Arquivo Pessoal)

Resgate
O apelo de Ademar foi atendido. Quatro dias após o acidente, no dia 13 de julho, ele foi resgatado pelo gerente de uma fazenda da região, José Omar. O homem avistou o corpo do jovem no pasto próximo ao barranco e desceu até lá para ver o que havia ocorrido. "Ele estava de bruços, com o braço para trás e muito amarelo. Pensei que tivesse morrido".


Ademar então, segundo o trabalhador rural, ouviu a conversa, mexeu a cabeça e disse: "Não, não estou morto não, eu estou vivo". Imediatamente, o Corpo de Bombeiros foi acionado. O rapaz recebeu os primeiros socorros no local. Socorrido ao Hospital Municipal de São Luís, ele precisou ser transferido para a capital goiana. Ademar ficou 48 dias internado no Hospital de Urgências de Goiânia.

Fonte: G1 GO