Prefeitos e outros presos na operação Tarja Preta prestam depoimentos enquanto advogados começam a medir profundidade de investigação
Chamados até o MP-GO, suspeitos voltaram ao Núcleo de Custódia no final da tarde de ontem |
Duas celas comuns coletivas instaladas no Núcleo de Custódia da Casa de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia, recebem os 12 prefeitos, 6 secretários, empresários e advogados presos na terça-feira (15) pela Operação Tarja Preta. Os investigados por suposto envolvimento no megaesquema que superfaturava a venda de remédios para prefeituras do Estado de Goiás têm à disposição um banheiro, banho de sol e visitação de familiares prevista somente no sábado.
Em contato constante com advogados, muitos afirmam não conhecer o motivo de estar presos. A incerteza das pessoas detidas também é expressa pelos representantes legais, que começam a conhecer agora a profundidade da investigação do Ministério Público Estadual: um inquérito de aproximadamente quatro mil páginas, de documentos, fotos e escutas telefônicas colhidas em um ano de investigação.
Cada cela abriga até oito presos da operação. A ala é separada dos detentos comuns e as mulheres estão na ala feminina da CPP, também em ambiente distinto das detentas comuns. “Adotamos essas medidas para evitar confusão e por se tratar de um tipo diferenciado de preso. É preciso ter cuidados especiais, já que pode mudar o ambiente da casa”, diz o secretário da Administração Penitenciária e Justiça (SAPeJUS), Edemundo Dias.
O dia seguinte à deflagração da operação foi tomado de expectativa e apreensão. Todos cumprem prisão provisória, com prazo de cinco dias, para o colhimento de depoimentos necessários ao inquérito instaurado pelo Ministério Público (MP-GO). Após depoimentos de prefeitos e secretários, os outros investigados foram ouvidos pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) na sede do MP-GO até o fim da tarde de ontem. Alguns voltam a ser inquiridos na manhã de hoje.
Entre os depoentes, o clima é de tensão. As diligências autorizadas pela Justiça parecem instaurar um tom atribulado nos familiares dos envolvidos. O contato é feito sempre através dos advogados, já que as visitas estão restritas ao sábado. Alguns presos dormiram no chão seco das celas e não receberam alimentação além da fornecida pela CPP. Os familiares tentam mandar colchões, bolachas e material de higiene pessoal.
O advogado Rubens Mendes, representante do prefeito de Rialma, Janduhy Diniz Filho, protocolou pedido de revogação da prisão do cliente, assim como também dos prefeitos de Inaciolândia, Zilmar Alcântara, e Aragarças, Aurélio Mendes. O advogado sustenta que, depois de colhidos os depoimentos, não há porque mantê-los presos. “As diligências já foram feitas (os interrogatórios, a busca de documentos) então não há para que se estender as prisões”, afirma.
Mendes salienta que ainda se trata de uma ação cautelar e que as diligências são feitas justamente para que seja feita a ação penal. Ele afirma que um prefeito ou secretário preso hoje pode ser uma testemunha amanhã e algum envolvido que não foi preso apareça nos inquéritos.
William Pereira, advogado de defesa de um envolvido nas licitações, é mais cuidadoso. Espera os desdobramentos para agir. O advogado entende que o momento atual é atenção e acolhe os pedidos da família. Durante a tarde de ontem, familiares do cliente de Pereira aguardavam depoimento do parente.
Não há contato direto. Apenas olhares, acenos, choro. O rapaz, identificado apenas como Joel, falou da necessidade de um colchão, já que afirmou dormir no chão da cela. A mulher entrou em desespero.
A apreensão também é constatada nas prefeituras que tiveram prefeitos, secretários e funcionários presos na operação. Nas poucas que mantiveram ontem funcionários atendendo telefonemas nas centrais administrativas, as informações são parcas e o receio é evidente.
Finte: O Hoje