quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Incertezas, apreensão e visitas apenas no sábado

Prefeitos e outros presos na operação Tarja Preta prestam depoimentos enquanto advogados começam a medir profundidade de investigação

Chamados até o MP-GO, suspeitos voltaram ao Núcleo de Custódia no final da tarde de ontem
Chamados até o MP-GO, suspeitos voltaram ao Núcleo de Custódia no final da tarde de ontem
Duas celas comuns coletivas instaladas no Núcleo de Custódia da Casa de Prisão Provisória (CPP), em Aparecida de Goiânia, recebem os 12 prefeitos, 6 secretários, empresários e advogados presos na terça-feira (15) pela Operação Tarja Preta. Os investigados por suposto envolvimento no megaesquema que superfaturava a venda de remédios para prefeituras do Estado de Goiás têm à disposição um banheiro, banho de sol e visitação de familiares prevista somente no sábado.

Em contato constante com advogados, muitos afirmam não conhecer o motivo de estar presos. A incerteza das pessoas detidas também é expressa pelos representantes legais, que começam a conhecer agora a profundidade da investigação do Ministério Público Estadual: um inquérito de aproximadamente quatro mil páginas, de documentos, fotos e escutas telefônicas colhidas em um ano de investigação.

Cada cela abriga até oito presos da operação. A ala é separada dos detentos comuns e as mulheres estão na ala feminina da CPP, também em ambiente distinto das detentas comuns. “Adotamos essas medidas para evitar confusão e por se tratar de um tipo diferenciado de preso. É preciso ter cuidados especiais, já que pode mudar o ambiente da casa”, diz o secretário da Administração Penitenciária e Justiça (SAPeJUS), Edemundo Dias.

O dia seguinte à deflagração da operação foi tomado de expectativa e apreensão. Todos cumprem prisão provisória, com prazo de cinco dias, para o colhimento de depoimentos necessários ao inquérito instaurado pelo Ministério Público (MP-GO). Após depoimentos de prefeitos e secretários, os outros investigados foram ouvidos pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) na sede do MP-GO até o fim da tarde de ontem. Alguns voltam a ser inquiridos na manhã de hoje.

Entre os depoentes, o clima é de tensão. As diligências autorizadas pela Justiça parecem instaurar um tom atribulado nos familiares dos envolvidos. O contato é feito sempre através dos advogados, já que as visitas estão restritas ao sábado. Alguns presos dormiram no chão seco das celas e não receberam alimentação além da fornecida pela CPP. Os familiares tentam mandar colchões, bolachas e material de higiene pessoal.

O advogado Rubens Mendes, representante do prefeito de Rialma, Janduhy Diniz Filho, protocolou pedido de revogação da prisão do cliente, assim como também dos prefeitos de Inaciolândia, Zilmar Alcântara, e Aragarças, Aurélio Mendes. O advogado sustenta que, depois de colhidos os depoimentos, não há porque mantê-los presos. “As diligências já foram feitas (os interrogatórios, a busca de documentos) então não há para que se estender as prisões”, afirma.

Mendes salienta que ainda se trata de uma ação cautelar e que as diligências são feitas justamente para que seja feita a ação penal. Ele afirma que um prefeito ou secretário preso hoje pode ser uma testemunha amanhã e algum envolvido que não foi preso apareça nos inquéritos.

William Pereira, advogado de defesa de um envolvido nas licitações, é mais cuidadoso. Espera os desdobramentos para agir. O advogado entende que o momento atual é atenção e acolhe os pedidos da família. Durante a tarde de ontem, familiares do cliente de Pereira aguardavam depoimento do parente. 

Não há contato direto. Apenas olhares, acenos, choro. O rapaz, identificado apenas como Joel, falou da necessidade de um colchão, já que afirmou dormir no chão da cela. A mulher entrou em desespero.

A apreensão também é constatada nas prefeituras que tiveram prefeitos, secretários e funcionários presos na operação. Nas poucas que mantiveram ontem funcionários atendendo telefonemas nas centrais administrativas, as informações são parcas e o receio é evidente.

Finte: O Hoje